terça-feira, 12 de maio de 2015

LIVROS ESSENCIAIS SOBRE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Em 08 de maio de 2015 comemorou-se no mundo os 70 Anos da Vitória Aliada na Europa, a guerra no Pacífico só terminaria oficialmente em 2 de setembro, com a rendição japonesa. Nessas datas marcantes sempre são lançados novos livros sobre o tema e sempre surgem as inevitáveis listas das melhores obras já publicadas.

Como eu disse em um post antigo no blog, a Segunda Guerra Mundial ainda atrai e fascina muita gente, por isso tantos novos lançamentos e reedições de livros antigos sobre o maior conflito da História da humanidade.

Como no ano passado, quando se lembrava os 100 anos do começo da Primeira Guerra, pude ler em vários sites e blogs listas de livros das mais variadas sobre o conflito. Listas que se diziam "definitivas" ou "essenciais" ou ainda que apregoavam conter os "melhores" livros sobre a guerra. Interessante perceber que existe um número imenso de títulos, muita coisa boa, mas nesse meio também há que se separar o "joio do trigo".

Não é fácil fazer uma lista "definitiva" ou que possa ser considerada a "melhor" sobre um tema tão vasto e que mereceu tantos trabalhos de inúmeros autores ao redor do mundo nos últimos 70 anos.
Então como um neófito poderia se orientar na busca de alguns bons títulos, de qualidade garantida, sobre a deflagração?

Em primeiro lugar deve-se buscar os clássicos. Em que pese as obras mais recentes possam ter se beneficiado de documentos históricos, só recentemente liberados pelos governos dos países beligerantes, alguns livros mais antigos são obrigatórios e não perdem a importância, nem a relevância, com o passar dos anos. Depois, dê preferência aos autores consagrados.

Tenha cuidado com algumas armadilhas, editores brasileiros costumam alterar os títulos originais de alguns livros de autores inexpressivos para parecer com obras mais famosas. Infelizmente, até aqui encontramos o maldito "jeitinho brasileiro", em outras palavras, a canalhice vigarista brasileira. Por esta razão sempre procuro comprar edições portuguesas.

Lamentavelmente, não domino o inglês para ler um livro no idioma original, mas as edições portuguesas são muito melhores que suas congêneres brazucas, melhor acabamento, papel melhor, etc. Tenho diversos títulos editados em Portugal, e ao compará-los com suas versões tupiniquins constatei até 30% a mais de páginas nos livros lusitanos. No Brasil, para cortar custos, os editores fazem cortes criminosos em muitos livros, alteram os títulos e mudam as capas, em outras palavras, eles mutilam os livros.

Para comprar livros portugueses procure o site da Livraria Cultura, ou os sites portugueses da FNAC, WOOK e do EBAY luso. Vale lembrar que livros são isentos de qualquer tributação na importação. Importo muitos livros, vale cada centavo a diferença.

Voltando a falar das listas, interessante também é separar os subtemas. Algumas obras tratam do conflito como um todo, outras destacam fases ou batalhas da guerra, outras narram a perseguição aos judeus e o Holocausto e por fim existem as muitas biografias de personagens históricos e inúmeros diários pessoais. Nesse aspecto o personagem com mais livros publicados sem dúvida alguma é Adolf Hitler. Há centenas, ou mais, de obras com o nome do Fuhrer no título. Para se comprovar isso basta pesquisar no Google as palavras livro e Hitler.

Começando pelos títulos clássicos e, eu diria, obrigatórios, eu destacaria em minha modesta lista os seguintes livros:


01 - "Ascensão e Queda do Terceiro Reich", de William L. Shirer.


Shirer era um jornalista norte-americano, e correspondente na Alemanha nos anos 1930. Ele viu de perto o surgimento do nazismo e sua subida ao poder. Testemunha ocular, e observador arguto, de diversos acontecimentos históricos da época Shirer escreveu aquela que é considerada uma espécie de obra canônica sobre o tema.



Volume 1: Triunfo e Consolidação 1933 - 1939



No livro o autor é extremamente duro com a Alemanha e seu povo. Manteve essa dureza por toda sua vida, até falecer em 1993. O ponto fraco na obra, como em muitos livros da época, é a demonização de Hitler. O Fuhrer e demais líderes do Reich são apresentados como figuras malígnas, perdendo a perspectiva de serem apenas seres humanos. Lançado em 1960 e publicado no Brasil pela primeira vez em 1962, teve a última edição no país em 2008, pela editora Agir, em 2 volumes magníficos. Obra clássica obrigatória.



Volume 2: O Começo do Fim 1939 - 1945


02 - "Memórias da Segunda Guerra Mundial", de Winston S. Churchill.



Tido como um dos maiores líderes britânicos de todos os tempos Winston Churchill foi com certeza a primeira e mais desafiadora voz levantada contra Hitler e seu Terceiro Reich. Opositor ferrenho da política de apaziguamento de Neville Chamberlain, nos anos que antecederam a guerra, o político, jornalista, historiador e escritor Churchill colecionou inimigos por causa disso, sendo acusado de fomentador da guerra.

A obra prima de Churchill.


Depois do fracasso da conferência de paz em Munique em 1938 e com a posterior invasão alemã da Polônia e o início da guerra, Churchill se tornou Primeiro-Ministro em 10 de maio de 1940. Seu relato épico desses tempos foi publicado originalmente em 6 imensos volumes. Pela obra Churchill recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1953. O meu exemplar é a edição condensada (em volume único de 1.200 páginas) lançada no Brasil pela editora Nova Fronteira em 1995.

Como prega o velho adágio de quem "vence a guerra escreve a História" o livro de Churchill tem alguns deslizes, ou omissões, como, por exemplo, a defesa do muito criticado ataque aéreo Aliado a Dresden, em 13 e 14 de fevereiro de 1945. Por outro lado o autor alertava que os países do Leste Europeu praticamente trocaram a tirania nazista de Hitler pelo jugo soviético de Stalin.
Entretanto, sob todos os pontos de vista o livro é clássico e obrigatório a qualquer estudioso, ou curioso, da Segunda Guerra Mundial.


03 - "O Mais Longo Dos Dias", de Cornelius Ryan.


Do mesmo modo que o o livro de William Shirer, "O Mais Longo dos Dias" é uma obra canônica sobre a maior operação militar de todos os tempos, o desembarque Aliado nas praias da Normandia francesa em 6 de junho de 1944.


Um dos maiores clássicos sobre o Dia D.


Ryan, assim como Shirer, também era jornalista e correspondente de guerra. Esteve presente no Dia D e acompanhou o avanço das Forças Aliadas até a derrocada do regime nazista em 1945. O livro foi publicado originalmente em 1959 e ganhou uma célebre e "cult" superprodução no cinema em 1962.

Apesar de Stephen Ambrose e Antony Beevor terem lançado, mais recentemente, excelentes livros sobre o Dia D a magnífica obra de Cornelius Ryan repousa no panteão dos clássicos absolutos do conflito.


04 - "Por Dentro do Terceiro Reich", de Albert Speer.


Albert Speer era apenas um arquiteto alemão na Alemanha dos anos 1930. Após ouvir alguns discursos de Hitler pelo rádio Speer teve a oportunidade de ver o Fuhrer falar ao vivo, acabou seduzido pela famosa eloquência do grande orador. Entrou na Partido Nazista e acabou sendo o arquiteto favorito de Hitler, que fez os projetos de uma nova e grandiosa Alemanha.

Por causa de Hitler Speer teve uma rápida ascensão no governo nazista. Em 1937 era Inspetor Geral dos Edifícios do Reich e em 1942 se tornou Ministro das Armas e Munições voltando toda a produção industrial alemã para o esforço de guerra.


A obra clássica de Albert Speer.


Speer foi também o único nazista que aceitou inteiramente a responsabilidade pelos crimes de guerra pelos quais foi julgado, e condenado em 1946, a 20 anos de prisão em Spandau. Entretanto, alguns historiadores britânicos o acusam de tentar passar uma imagem do "bom nazista". O historiador alemão Joachim Fest, que escreveu alguns livros sobre Speer, também sofreu a mesma acusação.

Filtrando um pouco o questionável "mea culpa" do autor, o grande mérito do livro é mostrar, com dados claros e precisos, que a Alemanha não estava preparada materialmente para a guerra em 1939. Se Hitler tivesse esperado até 1942 para começar a guerra e, se não tivesse atacado a União Soviética, a chance da Alemanha ter vencido a guerra, ou conseguido um armistício em bons termos, seria bem maior. Speer nunca aceitou o fato de o Fuhrer ter repetido o erro crasso de Napoleão ao ter lutado em duas frentes. O meu exemplar foi editado em 1975 pelo Círculo do Livro. Ainda criança, ganhei o livro de presente de um grande amigo de meu pai, foi o primeiro volume de minha biblioteca.


05 - "Os Generais de Hitler", organizado por Correlli Barnett.


O livro é uma coletânea de estudos de diversos historiadores militares sobre o caráter e a carreira dos 26 mais importantes generais de Hitler. A análise demonstra a competência e o êxito que esses generais tiveram nas grandes vitórias do começo da guerra e na longa resistência em meio a pesadas baixas até o fim do conflito.

Um detalhado e minucioso estudo dos 26 mais importantes generais de Hitler.


Uma coisa que sempre se questiona sobre o Terceiro Reich é como o povo e, principalmente, os generais e a Wehrmacht, puderam acatar de forma tão subserviente a tirania do regime. O livro busca dar essas respostas. Editado originalmente em 1989 foi reimpresso no Brasil em 2006 pela editora Zahar.



06 - "Hitler", de Joachim Fest.


Para os alemães do pós-guerra, o nazismo e suas consequências, sempre foram um grande tabu. Eles preferiam não lembrar, ou esquecer, a dura e triste realidade, e o pior: a culpa. A pensadora Gitta Sereny chamou isso de o grande "trauma alemão".




A volumosa biografia de Adolf Hitler, escrita pelo historiador alemão Joachim Fest em 1973, foi talvez o primeiro trabalho onde se tentou quebrar esse tabu, sendo também o primeiro escrito por um alemão. Fest foi acusado diversas vezes de tentar diminuir os crimes nazistas, nesse e em outros livros que publicou posteriormente.

Na Alemanha o livro foi um sucesso. Como a História sempre tem mais de um lado, ou diferentes pontos de vista, considero o livro de Fest muito bom, ele teve acesso na época aos mais recentes documentos de então. O historiador nasceu em 1926, portanto ele foi também um observador do período, o que apenas corrobora o seu trabalho.



07 - "Hitler", de Ian Kershaw.


Lançado em 2008 a biografia do historiador britânico Ian Kershaw é considerada por muitos como o trabalho definitivo sobre Hitler. Difícil falar em algo definitivo em História, mas o trabalho de Kershaw foi beneficiado pelo acesso a muitos documentos secretos abertos apenas nos anos 2000. O britânico adota uma postura bem mais dura em relação ao Fuhrer.





Entendo que os dois livros se complementam. A leitura das duas biografias, a de Fest e a de Kershaw, permite ao leitor criar uma visão mais próxima da realidade do que foi Adolf Hitler, um dos mais controversos personagens históricos de todos os tempos.


08 - "A Trilogia sobre o Terceiro Reich", de Richard J. Evans.


Os três volumes da monumental e estupenda obra de Evans são, seguramente, a análise mais profunda e o que de melhor se publicou sobre o regime nazista até hoje. São quase 3 mil páginas de um primoroso e detalhado texto.


Volume 1 da trilogia de Richard Evans.


"A Chegada do Terceiro Reich", lançado originalmente em 2003, narra os primeiros anos do então incipiente Partido dos Trabalhadores Alemães até o partido ser dominado por Hitler e rebatizado como Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. O caminho dos nazistas até o poder em 1933 é meticulosamente estudado.


Volume 2 da trilogia de Richard Evans.



"O Terceiro Reich no Poder", lançado em 2005, mostra como, nos anos de 1933 a 1939, os nazistas conquistaram corações e mentes dos alemães, como distorceram a ciência e a cultura e colocaram o país no rumo de outra terrível guerra mundial. Nesse meio tempo explora também a perseguição aos judeus.


Volume 3 da trilogia de Richard Evans.


Por fim, "O Terceiro Reich em Guerra", lançado em 2008, nos detalha como Hitler mobilizou o país para a guerra geral e total em 1939 e como foi o conflito até a derrota final, em meio a ruínas de um país destruído e arrasado em maio de 1945.


09 - "O Holocauto - História dos Judeus na Segunda Guerra Mundial", de Martin Gilbert.


O livro de Sir Martin Gilbert é, junto com a obra de Saul Friedlander, referência no assunto, não há nada publicado que seja tão profundo e tão denso. Como sempre dizia o sobrevivente judeu Elie Wiesel, ler sobre o Holocausto é sempre doloroso, mas deve-se ler e reler, para lembrar e homenagear a todos aqueles que o mundo tentou esquecer.





O autor, renomado historiador britânico, também publicou um excelente livro sobre a Kristallnacht, a "noite dos cristais" em 10 de novembro de 1938, considerada a primeira explosão do ódio nazista contra os judeus, além de outros títulos sobre a Segunda Guerra.


10 - "A Alemanha Nazista e os Judeus", de Saul Friedlander.


O Holocausto continua a ocupar um lugar perturbador e central na consciência histórica da humanidade, num misto de perplexidade e ignomínia, negação e desdém, cuja projeção se concentra iconicamente na figura do líder nazista, Adolf Hitler. Sem ele, provavelmente o nazismo não teria existido como tal.

Volume 1: Os Anos de Perseguição 1933 - 1939.


Saul Friedlander ganhou o Pulitzer em 2008 pelo seu trabalho estupendo. Junto com o livro de Martin Gilbert a obra de Friedlander é referência sobre o tema tão difícil. Divididas em dois volumes, o primeiro narra os anos de perseguição de 1933 a 1939 e o segundo detalha o extermínio sistemático dos judeus entre 1939 até o fim da guerra em 1945.


Volume 2: Os Anos de Extermínio 1939 - 1945.

É uma leitura forte, dura e dolorosa, como todos os relatos do Holocausto, mas absolutamente necessária. Essa é uma história que deve ser contada exaustivamente, para que nunca mais se repita. Ela não pode ser esquecida.


11 - "Os Diários de Victor Klemperer - Testemunho Clandestino de um Judeu na Alemanha Nazista", de Victor Klemperer.


Victor Klemperer era um judeu assimilado que vivia em Dresden, na Alemanha. Apesar da origem judaica familiar ele era convertido ao protestantismo e nutria um sentimento muito forte de "alemanidade". Ele não se via como um judeu, mas sim como um alemão. Foi voluntário e herói na Primeira Guerra Mundial. Era casado com a ariana Eva Klemperer.

A perseguição aos judeus na Alemanha poupava os veteranos da Primeira Guerra e os casados com arianos, nos chamados casamentos mistos. Isso, aliado a uma boa dose de sorte, o salvou da morte certa nos campos de concentração. Ele também foi um sobrevivente do criminoso bombardeio Aliado de Dresden, nos dias 13 e 14 de fevereiro de 1945.


Os excepcionais Diários de Victor Klemperer.


Klemperer era um erudito, professor na Escola Técnica Superior de Dresden, cátedra que perdeu em 1935, ao ser demitido em razão das leis raciais nazistas. Ele escreveu um diário detalhado sobre o que via e sentia entre 1933 e 1945. Em suas perspicazes observações fica claro que o alemão comum sabia das atrocidades do regime à partir de 1942. Sua obra é de uma importância sem igual, um testemunho único da tragédia de um povo.

Estranhamente os Diários de Klemperer só foram publicados na Alemanha em 1995. Dresden ficava na Alemanha Oriental, sob o controle soviético. Isso talvez possa explicar porque essa obra fantástica tenha demorado 50 anos para vir a público.  


12 - "Uma Mulher em Berlim - Diário dos Últimos Dias de Guerra 20/04 a 20/06/1945", autora anônima.

A jovem de Berlim que escreveu esses diários não quis que sua identidade fosse revelada. Ao ler o livro entendemos o porque disso. Os diários narram as últimas semanas do conflito, os constantes bombardeios aéreos e depois a chegada dos russos que ocuparam a capital alemã.




Com a ocupação soviética começa uma nova fase do terror, além da fome, do frio e do medo da morte. Quase sempre embriagados, os soldados russos cometeram estupros indiscriminados contra as mulheres desprotegidas. Muitas foram estupradas repetidas vezes, em diversas ocasiões, em grupo.

A autora usa um discurso direto, ácido, quase sarcástico, para narrar esses dias de pavor. O livro só foi publicado na Alemanha em 1960 e causou imenso ultraje na opinião pública local, as feridas ainda eram muito dolorosas.


13 - "Crônicas da Guerra na Itália", de Rubem Braga.


O maior cronista brasileiro, um dos meus escritores favoritos, Rubem Braga era capaz de resgatar a magia poética do cotidiano em seus textos recheados de vida, lirismo e emoção. O cronista/jornalista acompanhou a FEB, Força Expedicionária Brasileira, que lutou na Itália entre 1944 e 1945, como correspondente do jornal Diário Carioca.




Os escritos do velho Braga durante a guerra mantiveram seu estilo único, mas são mesclados com a objetividade da informação do correspondente, com todas as cruezas dos dados de uma guerra sangrenta e suja.

Rubem Braga conseguiu escrever uma tocante e brilhante história: a da campanha, da vida, e dos feitos dos homens brasileiros na Itália.


14 - "Minha Luta", de Adolf Hitler.


O ex-cabo austríaco da Primeira Guerra, Adolf Hitler, tentou, com seus partidários, um fracassado golpe de Estado em Munique, em 1923. Preso, ele escreveu na cadeia aquele que seria considerado o livro sagrado do nazismo: Mein Kampf, ou Minha Luta.




Lançado em 1925 na Alemanha, sem muito alarde, o livro era difícil de ler, um tanto truncado, árido, mal escrito. Alguns alegam que Rudolf Hess seria o verdadeiro autor. Depois de 1933 se tornou um best-seller, chegando a 12 milhões de exemplares vendidos apenas na Alemanha. Durante os anos do regime era comum casais recém casados ganharem Mein Kampf de presente.

Poucas pessoas realmente o leram, o que foi uma lástima, pois naquelas páginas Hitler esboçava seus planos para a Alemanha e o mundo. Tudo o que ele fez como Fuhrer do país estava descrito no livro de forma minuciosa.

Como as pessoas, e o mundo, puderam não perceber isso? É uma pergunta que sempre se faz ao se ler as palavras de Hitler.

Livro polêmico, foi proibido em quase todo o mundo. Hoje em dia não é muito fácil encontrar um exemplar em português, quando se acha ele é bem caro. Entretanto, a obra é essencial para se compreender o fenômeno do nazismo e, em decorrência, os anos da guerra.


15 - "A Verdadeira Odessa - O Contrabando de Nazistas para a Argentina de Perón", de Uki Goñi.


O fato, criminoso e vergonhoso, de o Vaticano de Pio XII ter ajudado milhares de nazistas a escapar dos julgamentos do pós-guerra é bem conhecido. Eichamnn, Mengele, Prieble, dentre outros muitos criminosos nazistas tiveram a ajuda da Cruz Vermelha e dos católicos para fugir.





O livro de Uki Goñi detalha como foi essa grande operação, que tinha o conhecimento dos ingleses e norte-americanos. O destino era a América Latina, quase sempre a Argentina. O regime ditatorial de Perón abrigou e protegeu esses fugitivos por décadas.

O relato dos últimos meses da guerra, dos preparativos que os nazistas fizeram para a fuga e o surpreendente apoio que encontraram, são esmiuçados no livro. A igreja católica e seus seguidores vão carregar essa infâmia para sempre.

Essa é a minha lista.

No começo do post, acima, eu disse que era difícil fazer uma lista de livros da Segunda Guerra. Eis que eu mesmo me arrisco a nomear a minha lista de "essencial", pelo o que peço perdão ao leitor, mas confesso que não resisti.

Tenho, em minha pequena biblioteca, algo em torno de 60 a 70 títulos sobre a Segunda Guerra, pretendi listar apenas 10 livros, mas foi complicado selecionar apenas 10. Existem muitas outras excelentes obras que poderiam estar nessa seleção, como por exemplo os livros sobre as batalhas de Stalingrado, Creta e Berlim de Antony Beevor e os trabalhos de Stephen E. Ambrose, dentre eles o sensacional Band Of Brothers que originou depois uma série de tv de grande sucesso nas mãos de Steven Spielberg e Tom Hanks.

Seguramente os leitores poderão indicar muitos outros livros. Sendo assim, não deixe de opinar após a leitura do post. Deixe suas sugestões de livros ou faça você mesmo sua lista pessoal nos comentários abaixo.

A ideia do post era fazer uma pequena homenagem aos 70 anos do fim da guerra na Europa. Gostaria de honrar e lembrar todos aqueles que lutaram e morreram em nome da liberdade e de um mundo melhor. Podemos ter dúvidas se o mundo se tornou um lugar melhor, mas o sacrifício dos 60 milhões de mortos nunca poderá ser esquecido.

Aos amantes dos livros, uma ótima leitura.

sábado, 7 de março de 2015

CARTAS DA PAULICÉIA DESVAIRADA

Eis que após longa e tenebrosa ausência vosso blogueiro retorna. Estou um tanto recluso e "offline" das paragens virtuais. Mas o "comichão do escriba" me atormentou de novo.

Tive a oportunidade, e o privilégio, de morar por 2 anos em São Paulo. Aprendi a amar a megalópole paulista, antes temida. Durante esse tempo eu escrevi alguns textos variados sobre a vida na cidade, atrações, etc.

Os textos são de 2008 e 2009. Eram apenas algumas observações, sem grandes expectativas, nunca esperava divulgá-los, a maioria foi enviada como e-mails a amigos. A primeira coisa que me marcou em Sampa foi a agenda de shows de grandes bandas internacionais. Impressionante. E o ano de 2008 foi prolífico nesse quesito, dezenas de grandes nomes se apresentaram na cidade. Pude conferir esses shows de perto.

Como uma banda que grava seu disco "ao vivo" e evita "overdub" eu vou publicar os textos como escrevi na época, sem correções ou edições. Engraçado como a gente pode mudar em 6 ou 7 anos. Foi divertido reler minhas palavras de quase uma década atrás.

Resolvi chamar esses textos de "Cartas da Paulicéia Desvairada". A primeira publicação que compartilho aqui no blog data de 25/02/2008 e fala sobre a "maratona" de shows que a cidade veria.

Espero que gostem, e que comentem suas impressões abaixo.


"Combatentes e demais amigos,

eis que teve início a grande maratona de shows do bom e velho rock n' roll aqui em São Paulo. E estar aqui nesses dias é mesmo um privilégio.

Lembro bem do entusiasmo com que os amigos PRAF e Falabella narraram suas experiências em 2007, respectivamente nos shows de Roger Waters e Pearl Jam.

Esses eu perdi, lamentavelmente.

Mas vamos ao som.

Ontem, 24/02/2008, o Credicard Hall chacoalhou com o lendário Deep Purple, que trouxe ao Brasil a turnê do cd/dvd "Live At Montreux".

O Purple, desde o primeiro disco, Shades of Deep Purple (1968), vem destilando clássicos e mais clássicos. Pérolas como "Highway Star", "Strange Kind Woman", "When a Blind Man Cries", "Smoke On The Water", "Into The Fire", "Child In Time", dentre outros petardos...

Eles lançaram alguns dos discos que hoje são discografia básica e obrigatória para o amante do rock: In Rock (1970), Fireball (1971), Machine Head (1972), Maden In Japan (1972), etc...

O álbum Machine Head é aquele da mitológica "Smoke On The Water". O Purple tinha ido a Montreux, Suíça, para gravar o disco em dezembro de 1971. Lá, foram ver um show de Frank Zappa no mesmo cassino onde acontece o famoso festival de jazz. No meio do show ocorre um incêndio e o próprio Zappa anuncia aos berros no microfone: FOGO. Resultado: gritos... correria... caos...

Isso e o resto da história você pode conferir na verídica letra de "Smoke On The Water". 

Voltando ao show de ontem os senhores Ian Gillan (voz), Steve Morse (guitarra), Don Airey (teclados), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria) não decepcionaram. Gillan continua com poderosa voz. Paice destrói a bateria com precisão, Airey não deixa saudade do tecladista da formação original Jon Lord (acho que cometi uma heresia aqui), Steve Morse simplesmente arrebenta na guitarra. O cara é muito bom. Ele tem a responsabilidade de substituir o lendário Ritchie Blackmore, que abandonou a banda em plena turnê, em 1994.

Para mim o que mais impressionou foi a vitalidade dos caras. Imaginei que veria um grande show mas a idade deveria pesar. Que nada, os caras deram tudo.

Acho que o público contribuiu para isso. A platéia, bem heterogênea, "tiozões" na faixa dos 60 e 50, a garotada de 16 a 20 e poucos e uma turma trintona, onde me encaixo. (Hoje caminho mais próximo dos 50)

E o público cantou junto e certamente os caras no palco se emocionaram com isso.

Resultado? Um puta show.

O local ajuda e muito. O Credicard Hall tem excelente estrutura, acústica sensacional, além de confortável, tudo perfeito. Grande diferença dos shows que vi no tétrico e "xexelento" ginásio do "Mineirinho" nos anos 1980.

O Purple vem ao Brasil desde 1991, em BH tocaram em 1997, 1999, 2003, 2006.

Quem tiver a chance vá, quem foi sabe o que significa.

Bom, semana que vem tem mais rock na agenda: Iron Maiden dia 02/03/2008, Bob Dylan dias 05 e 06/03, Dream Theater dia 08/03. Em abril tem o legendário Ozzy Osbourne e em maio o senhor Coverdale e seu Whitesnake.

Pretendo ir a todos, inclusive nos dois do Dylan.

Vida longa ao bom e velho rock n'roll.

It's only rock n'roll, but I like it... I love it...

Abraços a todos,


Allysson"

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

COMO E PORQUE DESCOBRI O APAIXONANTE HÁBITO DA LEITURA.

Sou daquelas pessoas que, hoje, acredito raras, que não suportam a ideia de não ter um livro sempre à mão, esteja onde estiver. Carrego livros na mochila, no carro, eles estão espalhados por todos os cantos. Em casa, várias vezes por dia dou uma “namorada” nas minhas estantes, a parte mais sagrada do lar, a minha igreja pessoal.

Não consigo conceber um ser humano que não lê um livro. Isso me soa absurdo. Fico chocado com as desculpas esfarrapadas que ouço, “não tenho tempo”, “ele é muito grande”, “vou ler o resumo”, “não gosto de ler” e outras pérolas de uma sociedade vazia, tola e superficial. Vivemos em tempos de novas tecnologias, da chamada era digital, onde todos estão logados e conectados o tempo inteiro.

Aqueles “15 minutos de fama” que Andy Warhol profetizou nos anos 1960 que todos teriam são realidade hoje. Todos tem acesso a uma quantidade fenomenal de informações. O problema é separar o “joio do trigo”. Tem muita porcaria na internet. Infelizmente muita gente trocou o livro pelo Wikipedia, nem sempre confiável. As pessoas tem preguiça mental de ler. Sou acusado com frequência no facebook de escrever demais. Garotos me dizem que não lêem meus textos, porque “são muito longos”. Chocante.

Considero isso um problema grave de nossos tempos. Ninguém se aprofunda em nada, superficialidade é a palavra de ordem. Era da Idiocracia.

Bom, mas eu devia estar me atendo ao tema do meu “post”, desviei e acabei sendo um pouco rabugento. Vosso blogueiro pede desculpas.

Como afirmei no título uma das maiores verdades sobre a leitura é que ela é um hábito. E esse hábito pode ser ensinado e incentivado. Isso é estupendo. Vou resistir a tentação de, mais uma vez, desancar os ignorantes de hoje em dia para explicar como isso se deu comigo.


Enciclopédia Britannica, sonho de consumo na era pré-internet.



Quem nasceu nos anos 1960 e 1970 muito provavelmente teve em casa uma enciclopédia. Ah, as enciclopédias "Britannica" e a "Barsa" eram objetos de desejo. A "Britannica" foi a primeira enciclopédia do mundo, editada em 1768 no Reino Unido. Sua última edição foi em 2010, tinha 32 volumes e pesava 130 quilos. Em março de 2012 a "Britannica" encerrou sua publicação em papel, depois de 244 anos ensinando gerações. Meu pai acabou comprando uma versão mais barata, mais modesta, a Enciclopédia Abril, que continha 15 volumes.



Enciclopédia Abril, a primeira que ganhei.




Na era do Google um garoto hoje provavelmente nunca viu uma enciclopédia na vida. Basta explicar que não existia internet, nem computadores em casa, os “PC” só chegariam aos lares brasileiros nos anos 1990.

Fiquei fascinado com a minha enciclopédia. Comecei no volume 1 e fui lendo todos os verbetes. Eu devorei aquilo com afinco. A descoberta de um mundo novo e admirável. Em 1982 morávamos em Cuiabá/MT e meu pai foi transferido para Belo Horizonte logo no começo do ano. Eles me inscreveram na prova de seleção do Colégio Salesiano, que tinha a fama de ter um excelente ensino e uma prova de admissão aterrorizante.


Fachada do Colégio Salesiano nos dias atuais.



Aprovado com louvor, modéstia à parte, se me permitem esse pequeno e "pecaminoso" arroubo de vaidade, ingressei no Salesiano, o velho Salê. O colégio era um mundo inteiramente novo e imenso pra mim, nunca tinha estado em algo parecido. Me senti um pouco como o garoto da música em “O Reggae”, de Renato Russo:


“Ainda me lembro aos três anos de idade,
O meu primeiro contato com as grades,
O meu primeiro dia na escola,
Como eu senti vontade de ir embora...”


Acreditem, eu era incrivelmente tímido e essa foi uma experiência que me marcou muito. Como disse antes o colégio era imenso, turmas de maternal, desde a creche, de primeiro grau, das antigas 1ª a 8ª séries e o segundo grau com os 3 anos, sendo o terceiro integral, aulas o dia inteiro.


O Salesiano de BH hoje em dia.



Era uma escola católica, da ordem dos Salesianos, fundada pelo padre Dom Bosco. Havia também um seminário no último andar do prédio maior. Esse andar era proibido aos alunos. Sempre ficávamos pensando o que acontecia ali.

Eu ingressei na 4ª série. As coisas pareciam piorar a cada dia. Até que fiz uma descoberta que mudou minha vida. A professora de português Márcia nos apresentou a biblioteca do colégio. Fiquei maravilhado, era uma daquelas bibliotecas imensas, enormes, que vemos em filmes antigos, estantes de madeira a perder de vista. (Vi recentemente pelo website do colégio que a biblioteca está bem diferente, parece menor, ou será que a idealizei em minhas lembranças?) 

Foi uma aula inteira lá, aprendendo a como localizar livros por temas, assuntos, matérias, etc. Conheci ali uma pessoa que teria um papel fundamental em minha educação e em minha vida: a bibliotecária, a inesquecível dona Tereza. Que saudade sinto dela ao escrever essas linhas.


Pelo site do colégio a biblioteca atual me parece totalmente diferente das minhas lembranças.



Bom, mas voltando ao assunto a dona Tereza nos explicou que poderíamos pegar livros emprestados na biblioteca do colégio. Uau!!! Tínhamos de fazer uma ficha , fui o primeiro a fazer a minha. Era daqueles fichários antigos, de metal, na ficha ia sua foto e demais dados do aluno, e se lançava nela os livros emprestados com as datas de empréstimo e de devolução.

No dia seguinte fui a biblioteca e pedi ajuda à dona Tereza. O que eu deveria começar a ler? Ela me apresentou a uma coleção muito antiga, das obras completas de Monteiro Lobato. Nas semanas seguintes eu devorei aqueles livros. Lia vorazmente e quase nunca pedia extensão do prazo de 10 dias do empréstimo original. Normalmente eu entregava o livro antes. O cheiro do livro velho era viciante.

De Lobato pulei para Ziraldo, “Meu Pé de Laranja-Lima”, Autran Dourado, Orígenes Lessa, li toda a “Coleção Vaga-Lume” bem como a coleção “Para Gostar de Ler”, “Robinson Crusoé”, “A Ilha do Tesouro”, tudo de Jules Verne e tantos outros clássicos infanto-juvenis. Os anos se passavam e eu ia amadurecendo entre aquelas estantes de sonho da biblioteca. Eu viajava sem sair de BH, percorria todo o mundo em minhas leituras, eu estava em outra dimensão.

O colégio fazia um concurso de leitura, para os alunos que lessem o maior número de livros no ano. Ganhei esse prêmio diversas vezes durante todo o tempo que estudei lá.

De novo tenho de pedir desculpas, modéstia à máxima parte, os professores me achavam um tanto precoce. Eu estava sempre lendo livros que eles consideravam que não eram adequados à minha idade. Felizmente na biblioteca da dona Tereza não existia censura.

Descobrir bibliotecas era meu esporte favorito. Nessa época meu pai tinha um amigo que visitávamos sempre. Num dia, aniversário de um de seus filhos, aniversário de criança, que sempre odiei, ficava sempre perto dos adultos. Nesse dia eu deixei os adultos conversando e fui “explorar” a casa do amigo de meu pai. Descobri seu escritório e muitas estantes cheias de livros. Escolhi um livro, sentei no chão e comecei a ler.

Cerca de 2 horas depois estavam a minha procura. O amigo de meu pai me achou no chão do escritório e ficou surpreso com o número de páginas que eu tinha lido do livro.

A obra era o árido “Por Dentro do Terceiro Reich” de Albert Speer. O bom Dr. Márcio, amigo de meu pai, me deu esse livro de presente, dizendo que ele próprio nunca tinha conseguido ler. Foi o primeiro livro que iria compor minha futura biblioteca. Tenho um grande carinho por esse livro e o Dr. Márcio Mendonça é alguém muito especial pra mim.


Por Dentro do III Reich foi o primeiro livro de minha coleção.



Sendo meio precoce, eu já sentia uma dificuldade em aceitar nossa existência como nos era ensinada. Nunca me conformei muito em me conformar. Era tido como rebelde, nas aulas de religião, que eu sempre odiava, achava aquilo a maior perda de tempo, eu questionava tudo. Como eu lia muito, e de tudo, e cheguei a bater boca com os padres em diversas ocasiões, sempre tinha bons argumentos. Vosso blogueiro se revelava um guri insolente. Mas falava com embasamento, eu lia os livros deles. Acho que a bíblia, estudada a fundo e com rigor histórico, é a maior ferramenta de criar ateus do mundo. Se por um lado tenho as melhores lembranças possíveis do Colégio Salesiano, por outro ali eu aprendi a odiar padres e afins, por motivos que prefiro não revelar. Antes que alguém faça uma "gracinha" eu aviso que não fui vítima de pedofilia. (risos incontidos)

Aquela fase em que você não é menino nem homem, a chamada adolescência, trouxe muitas descobertas, a maioria delas vieram em forma de livros. Vou citar alguns livros que mudaram minha vida pra sempre. “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger foi um deles. O inesquecível Holden Caulfield, protagonista da obra, tinha 16 anos, e eu tinha 15 quando li o livro. Li e pirei. Aquilo foi incendiário e revelador. (Quase 30 anos depois eu reli o livro, esses dias, e ele continua mágico.)


Um dos meus livros favoritos desde sempre.



Em seguida li outro livro antológico: “O Encontro Marcado” de Fernando Sabino. Putz, eu me identifiquei com o Eduardo, eu sentia as mesmas angústias dele. Eu sentia aquela dor. Aí, talvez, esteja o maior motivo da minha paixão pelos livros: eu sou capaz de viajar nele, o livro me transporta para outro mundo, até hoje me encanto com isso. Alguns poderiam dizer que se trata de uma fuga, eu diria que é algo quase místico.


Igualmente marcante pra mim a obra-prima de Fernando Sabino.



Quais livros podemos e devemos ler? E qual será o melhor momento de ler? Não existe resposta para isso. Desde garoto tentei ler o máximo possível. Descobri a geração beat, Kerouac, Burroughs, Ginsberg. A poesia de Rimbaud, Baudelaire, Jim Morrison, T.S. Eliot, Neruda, Pessoa. Depois veio a fase da faculdade, livros de Economia, Marx, Engels, filosofia, Nietzsche, Kant, Sartre, Bertrand Russel, Foucault e outros. Depois livros de Direito.


Minha coleção sobre Jim Morrison e The Doors.



A turma falava em “livros de formação”. Ouvia o tempo todo: “você precisa ler esse”. Desde essa época eu já tinha uma extensa e ambiciosa “lista, ou fila, de leitura”. Era uma época em que não nos cansávamos de "ouvir falar em Freud, Jung, Engels e Marx, intrigas intelectuais rolando em mesas de bar", como Renato Russo cantava na música da Legião Urbana. Hoje isso morreu, as pessoas ficam ligadas apenas em seus iPhones.


Meus livros sobre a Legião, Renato Russo e o rock de Brasília.



Relembrando isso hoje não dá para negar uma pontinha de frustração em saber que nessa minha lista de leitura ainda constam alguns livros “impossíveis”, tais como “Em Busca Do Tempo Perdido” de Proust, “Ulysses” de Joyce, dentre outros. Tenho em casa todos eles e comecei a lê-los dezenas de vezes, sem conseguir ir adiante. Sim, isso me frustra. (Ainda não desisti, não posso morrer sem ler Proust e Joyce.)



Joyce e Proust continuam quase impenetráveis, são desafios que preciso vencer ainda.



Adulto li tudo de Ernest Hemingway, um dos meus autores favoritos, li Tolstoi, Dostoievski, Turgueniev, Nabokov, Hesse, Mann, Fitzgerald, Cervantes, Dumas, Victor Hugo, Rubem Braga (amo o velho Braga) e vários outros clássicos.


Minha coleção de Hemingway, um dos meus favoritos.



Depois do colégio fui para o Exército, para o Curso de Formação de Oficiais, no CPOR/BH. Eles tinham uma biblioteca sensacional. Descobri uma nova paixão: a História Militar. Clausewitz, Guderian, as batalhas de Napoleão, as duas guerras mundiais, Vietnan, etc.

Hoje procuro ler tudo que ainda não li e me interessa. Infelizmente sei que vou morrer sem conseguir fazer isso. Como leitor me tornei um bibliófilo, coleciono livros, minha pequena biblioteca cresce mas minha “fila de leitura” cresce ainda mais rapidamente. Comprar livros é uma de minhas atividades preferidas. Um leitor compulsivo me compreenderá. E sempre leio mais de um livro ao mesmo tempo. Atualmente estou lendo 5 obras simultaneamente.


Meus livros sobre Hitler e o Terceiro Reich.



Sou daqueles leitores antigos, preciso do livro de papel, que me perdoem os mais “moderninhos” ou mais “antenados” mas eu pretendo resistir até a morte aos insossos e-books. Quanto mais velho melhor é o livro, sou viciado em livros velhos e claro, em sebos. Se as pessoas pudessem saber como é revigorante e excitante passar uma tarde inteira garimpando preciosidades num bom e velho sebo. Saudades dos sebos de BH e de Sampa.


Parte de minha biblioteca.



Meus livros estão cheios de grifos, anotações, etc. Adoro quando releio um livro antigo e encontro anotações antigas, às vezes com muitos anos, é incrível rever essas ideias e sentimentos. Reler livros é outra prática que adoro. Algumas obras prediletas já li 3, 4 ou mais vezes.


Parte da minha coleção de marca-páginas. O de Firenze 2008 foi presente da Luc.



Uma outra coisa que agrada ao leitor aficionado são os marca-página. Tenho uma vasta coleção deles. Os principais museus do mundo vendem em suas lojinhas esses objetos às vezes ignorados. Sempre que viajo volto com muitos novos modelos. Muitos amigos trazem de presente esses marca-página, tenho até hoje um que minha amiga Luciana trouxe de Firenze, na Itália, em 2008.


Meu carimbo "Ex-Libris".



Outro ítem essencial para o leitor tradicional, daqueles que prezam sua biblioteca, é o carimbo de "Ex-Libris". A expressão latina pode ser traduzida como "livros de" ou "biblioteca de". Ou seja, indica quem é o dono do livro. É aquela etiqueta, ou carimbo, colada geralmente nas primeiras folhas de um livro, podendo, através de uma imagem ou texto, indicar a profissão e os gostos do dono do livro, bem como até um (nem sempre) discreto lembrete a um eventual surrupiador da obra. O ex-libris do desenhista e caricaturista francês Gus Bofa (1883-1968), por exemplo, indagava sarcástico: "Esse livro pertence a Gus Bofa. / O que está fazendo aqui?".



Minhas escaletas cheias de livros.



O leitor contumaz é sobretudo um recluso. Fico abismado em ver que a “garotada” de hoje nunca leu um livro na vida, eles não sabem falar, não sabem escrever, é um horror. Não tenho grandes esperanças nas gerações vindouras. Parece que cada vez mais estamos cercados de idiotas ignorantes.

Mas, a vida pode sempre nos surpreender. Uma prima de minha esposa, uma garota de 15 anos, é uma dessas gratas descobertas. Já é uma leitora compulsiva. Um viciado sabe reconhecer o outro. Apesar de não ter havido um grande estímulo por parte da escola ela descobriu a leitura e sua magia. Fiquei encantado com isso. Gostaria de ter uma filha assim.

Da mesma forma que pessoas abriram suas bibliotecas para mim quando jovem pretendo servir de cicerone e guia de minhas estantes para a jovem Isabella.

Devo tudo o que sou hoje aos meus anos de formação no Colégio Salesiano. Tive grandes Mestres, daqueles catedráticos que hoje não existem mais. A saudosa Mestra Vera, minha professora de Literatura, Gramática e Redação, o bom e velho Mestre Mardônio, que é responsável pelo meu amor pela História, os professores Chico, Oswaldo, Antônio e tantos outros. Meu saudoso professor de Latim, Mestre Osvaldo, que saudade.

Mas foi a querida dona Tereza me apresentou aos livros, e isso foi a coisa mais fantástica que alguém poderia ter feito por mim. Ela, que tanto me incentivou, foi minha companheira de anos e anos de leituras. Devo muito a ela.

Dizem que você pode conhecer um homem pelos livros que ele lê. Acredito que, de certa forma, isso é verdade. Alguém que tiver a chance de observar minhas estantes acabará descobrindo minhas paixões, minhas crenças e minhas predileções. Aqui vale outro comentário, adoro quando recebo visitas que ficam olhando minhas estantes, coisa rara. Felizmente temos vários bons amigos que compartilham essa paixão. Nem preciso dizer que para mim o melhor presente é um livro, ou muitos.

Gostaria de dedicar esse post de minhas reminiscências literárias à jovem Isabella. Tenho escrito pouco no blog, reclamo que quase ninguém lê. Mas conversando com ela voltei aos meus 15 anos, naquela mesma empolgação e urgência literária que parecia nunca ter fim. Vi o mesmo brilho nos olhos que eu também tinha.

Temos vivido dias desleais, tristes e um tanto melancólicos. Mas, nessa madrugada estou com sentimentos mais alvissareiros. A jovem Isabella me deixou feliz. Fico torcendo para que existam muitas outras como ela.

Vou dormir com o dia amanhecendo, mas nem tudo está perdido, e temos muito ainda por fazer...

Encerro inspirado pelos versos de Fernando Sabino, que falam do encontro marcado que todos temos com essa coisa complicada e dura que é a vida...


“De tudo ficaram três coisas... 

A certeza de que estamos começando... 

A certeza de que é preciso continuar... 

A certeza de que podemos ser interrompidos 
antes de terminar... 

Façamos da interrupção um caminho novo... 

Da queda, um passo de dança... 

Do medo, uma escada... 

Do sonho, uma ponte... 


Da procura, um encontro!”